Estamos numa altura perigosa.
Uma altura em que não existe preconceito às claras mas sim disfarçado.
Uma altura em que parece que andamos todos preocupados com o próximo mas se calhar não é bem assim.
Uma altura em que se fazem movimentos e se aproveitam grandes eventos com extrema visibilidade para fazer discursos "inspiradores".
Uma altura em que se aponta o dedo primeiro e só depois se reflete.
Ontem apareceu-nos a notícia da H&M e da famosa camisola verde com a frase "o macaco mais fixe da selva" (em inglês) a ser vestida por uma criança de cor.
Todo um alarido pela questão racial envolvida e do preconceito que não existe existindo. Vi a camisola antes de saber da polémica e não me suscitou nenhum tipo de pensamento. Nenhum. E li um comentário de alguém que dizia "que camisola fixe para eu oferecer ao meu irmão; sem nunca reparar na cor de quem a vestia". Pois é isso mesmo. Porquê reparar? Em quê?
É por isso que estamos numa altura perigosa. Basta alguém levantar uma questão, por mínima que seja e o caldo está entornado. Nesta era da tecnologia não podemos dizer um "ai" no aconchego do nosso lar porque não sabemos onde ele pode ser ouvido ou onde ele pode ter efeitos colaterais.
Tenho medo do que nos estamos a tornar.
Não digo que a questão racial não exista. Existe, mas pelos vistos quem não é preconceituoso não a viu. Deve haver uma explicação para isso.
Andamos às voltas com as questões do assédio sexual que muitas atrizes decidiram revelar (e contra isso nada a dizer porque a verdade é o maior poder que se pode ter) e vemos discursos sobre o tema que na verdade nada trazem porque o problema não é agora saber-se a verdade. O problema está do lado de quem compactoou com esses actos. De quem sabia existir todo este cenário em Hollywood e nada fez. Vi e ouvi o discurso da Oprah. Não consegui ignorar porque ela é uma mulher envolvente e demasiado influente para não lhe dar o valor que tem. Mas logo a seguir ouvi um comentário que defendia não entender a Oprah neste caso, pois tendo tido o programa mais visto em todo o mundo e tendo liberdade de convidar quem ela quisesse para o mesmo programa, não tivesse dado voz a estas mulheres mais cedo. Teve 25 anos para o fazer e não o fez.
Não sei quem tem razão neste caso e não me compete discutir isso.
Mas estamos ou não numa altura perigosa em que na verdade o mais importante é o jogo de interesses e não o interesse mais importante?!
Um trocadilho que dá que pensar.